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Mostrando postagens de março, 2024

Memória e vivência

O passado é um rastro  Uma reminiscência Geralmente uma impressão apenas De um presente  Como sempre, absoluto, intenso De tudo o que viveu Do máximo ao mínimo  O que sobra da existência O que ainda não se esqueceu O que ainda resiste Tão pouco perto do que foi Como a ruína de um império glorioso Sem cor Reduzido Que a emoção tenta reconstruir, reviver... E com esse pouco, chama de saudade, de vontade, De lealdade pelo que ficou para trás Mas os caminhos nunca voltam de verdade  A sensação do passado não é mais que uma miragem A própria vida, aliás

Capitalismos

  Bala da arma que matou John Lennon vai a leilão As almas dos políticos já foram vendidas há muito tempo  Bonecos para pedófilos e zoófilos começam a ser produzidos em Amsterdam  São muitas as igrejas e as casas antigas, belíssimas, que já foram substituídas por prédios cinzentos Florestas são destruídas, corpos são consumidos... Sexo ou exploração?? Capitalismos Novo, velho feudalismo Desde os babilônios, a mesma indagação: Até quando?? Haverá um fim para o desprezo humano?? 

Sem dizer uma palavra

 Eu digo que não sou feliz  Com os meus olhos tristes  Que eu tenho medo de tudo, de todos Que eu me sinto desconfortável com a vida  O meu corpo e o meu rosto dizem por mim  Sem eu querer  Dizem que eu sou diferente  ou apenas mais frustrado  Ou mais realista  Minha testa franze Meus pés titubeiam o chão  Meus olhos tateiam ângulos cegos Mas sempre miram nos olhos dos outros apressados Eles fazem por mim  Eu observo e registro mais do que controlo  Os sentimentos que eu sinto por dentro E por fora, eu me afogo na densidade  Na tensão  Nas verdades alheias Mas não dizem tudo sobre mim Porque eu ainda sou feliz  Mesmo carregando certezas tão difíceis Incertezas de um caminho íngreme E qualquer passo em falso, não sei mais  Eu só sei que eles dizem  Os outros reagem Mais com base no que dizem  E não como eu gostaria  E assim, eu sigo  quando eu não digo  E entendem até muito bem  Mais sobre as minhas fraquezas do que sobre as minhas qualidades  E quando eu consigo, eu omito  Mas eu sempr

Sofro

  Como se carregasse o mundo nas costas  Se mal posso aguentar o meu próprio peso Suspenso do mundo prático  Vivo de dependência e expectativas próximas  E de frustração e desassossego  Por achar que eu teria a capacidade de mudar tudo Pelo menos, eu não sou muito ambicioso Não penso alto  Mas não há nenhuma lei que proíba sonhar alto E eu sonho  E eu sofro por isso  Por acreditar que é minha responsabilidade Ou que eu deva sempre sofrer pelo sofrimento alheio  Se eu deveria tentar aliviá-lo Ainda mais se forem quatro patas andando nas ruas Com o olhar mais carente Mas a minha covardia é mais forte Meu egocentrismo Minha vergonha Meus muros de timidez e transparência E parece que há pouco o que possa fazer para controlar minhas neuroses Se também têm um fundo de razão  De estar sempre alerta  Luta ou fuga Se eu vivo no meu purgatório Apesar de cometer menos pecados que muitos que vivem em paraísos terrestres E ainda dizem que Deus escolhe os mais pobres... Pois não há "compensação

Sobre meio, criação e personalidade/caráter

  Eu não acredito que o meio, incluindo a criação dada pelos pais, seja o principal fator no desenvolvimento (ou constituição) da personalidade e, portanto, do caráter, por acreditar que aconteça paralela e independentemente. Mas eu acredito que a criação pode ou costuma ter um efeito mais pronunciado na dinâmica familiar, assim como o meio, de maneira geral, que também influencia na dinâmica social, de modo que, o comportamento de uma pessoa pode ser variavelmente mediado por outras pessoas, leis, estruturas ou circunstâncias de contato. Mas tudo também depende das próprias inclinações intrínsecas da pessoa, reiterando a minha defesa heterodoxa pelo determinismo biológico, de que nenhuma mudança de comportamento acontece sem que exista uma disposição intrínseca que a favoreça. 

Novamente o problema elementar da psicometria

  É que a psicologia, assim como a astronomia, também se firma na observação de padrões como meio principal de produção de conhecimentos do que pelo empirismo prático, e até mais já que, enquanto a astronomia requer cálculos matemáticos em suas observações e descobertas, o mesmo não é estritamente necessário para a psicologia. De novo, a ênfase no pedantismo das ciências exatas, se embrenhando em áreas onde não há grande necessidade de precisão numérica, afinal, ninguém realmente precisa fazer cálculos complexos para concluir, por exemplo, que seres humanos variam em suas capacidades cognitivas, bastando a definição de conceitos relacionados, e comparação e ranqueamento com base nos conceitos e critérios estabelecidos, ou observação...

A estupidez do mais irracional se percebe...

  ... nos mínimos detalhes, nos comportamentos mais básicos do cotidiano, geralmente associados a uma incapacidade de perceber o que acontece além do seu centro de gravidade. Portanto, é possível afirmar que narcisismo e racionalidade tendem a ser opostos, se o narcisista vive, interpreta, compreende e interage com o mundo ao seu redor muito centrado em si mesmo e o mais racional, por suas capacidades mais desenvolvidas de objetividade e imparcialidade, costuma se comportar de maneira oposta, não no sentido de estar totalmente desapegado de si mesmo, mas mais voltado para o mundo exterior e suas verdades.  

Eu prefiro

  Ouvir o barulho da chuva lá fora do que a doutrinação diária da tv aqui dentro Eu prefiro sentir o vento frio da noite pela janela sóbria do que ódio e decepção pelo que está acontecendo  Humanidade, como sempre  Eu prefiro acordar mais tarde do que viver assustado ou na inglória de correr contra o tempo Eu prefiro, mas não significa que tenha poder de escolha  E por isso, sinto mais os tambores da guerra do que os batimentos do meu coração, em silêncio  Sinto mais a tristeza e a tensão dos conflitos dos homens, do que a beleza dos seus sentimentos Se algum dia, eu conseguirei subir a minha montanha e aprender a meditar, sem ter mais tantos pensamentos  Se do alto dos meus 35, nesse agora em que escrevo, ainda estou tão abaixo da altura das nuvens brancas, no mesmo nível dos nossos sofrimentos Se é mais uma promessa ou juramento  Talvez seja a mesma esperança 

As férias em que eu não saí de casa

 Publicando novamente uma poesia que acredito ter excluído ou mudado o título e não consegui encontrá-la nos meus escritos mais antigos (~ 2018)... também com alterações (ou melhoramentos) Sobre umas férias, acho que no final dos anos 90 Um verão inteiro preso Dentro de casa Na imensidão da minha timidez Do meu mundo paralelo De imaginação Intenso, mais forte que o próprio dono Sua luz me bastava, eu pensava Quando a sorte era ser só Meu pobre rapaz exageradamente honesto Me viam no meu submarino Apenas os olhos tristes O interior de oxigênio As bolhas de tanto falar E as palavras não se encontravam Vivia dentro d'alma Me acostumei aqui Mal lembro dos detalhes Sei mais sobre as paisagens das minhas lembranças Lembro mais pela intensidade Do que por hábito ou talento Chegava na varanda, via um atlântico azul, escuro, monstruoso, Olhos de fogo, risos debochados O sol incendiava o meu horizonte O céu caía de cansaço Nunca fui de desafios Sempre fui desafinado O meu excesso agridoce Qu

Desatentado ao pudor

  Vida  Apenas uma Depois, nunca mais A minha é cheia de tesão, de imaginação  De amor próprio e reclamação sobre o que vejo no espelho  Quando eu vejo esse ainda jovem rapaz Ainda assim, me aceito Tento conviver com os meus defeitos  E registro quem eu sou desde que me deram uma câmera na mão  E eu perdi o pudor de mostrar o rosto Quando eu mostro o resto do meu corpo  Como veio ao mundo  Sempre cheio de desejos Sem roupas, sem símbolos de ostentação Sem propagandas, apenas uma parte oculta da minha personalidade  E se me pegarem??  E se me exporem sem eu ter concordado??  Bem, não terá sido minha culpa  O atentado ao pudor não será meu Se eu só me mostro para mim e para uns poucos,  loucos como eu, por essa mania de viver

Olhos vermelhos

  De abandono  De história  De velhice  De meiguice De tristeza  Patas longas Dona da rua Muitos anos caninos E ainda procura  E ainda a ajudam  Eu apenas olho e lamento  E me paraliso Queria ajudá-la Queria adotá-la Mas eu estou tão perdido Só consigo sentir pena  Só queria lhe dar uns momentos de alegria  Mas eu os deixo  Por vergonha, medo, melancolia   É o meu egoísmo que sempre fala mais alto E eu sigo em frente  Subindo e descendo morros  Lamentando sobre a própria inutilidade Que talvez a morte não seja tão grave De deixar esse mundo tão cruel e estúpido  Tão indiferente A vizinhança lhe dá ração e água  Pelo menos  Tem poucas almas que sentem compaixão E eu não sou uma delas Porque eu sinto pena  E nojo de mim mesmo  Mas o meu ego é muito resistente E sigo em frente  Me brindando com mais esse altar de vaidade Tão frio quanto aquele pai de "Através de um Espelho"

Via de regra

 Arte e ciência Mas o mesmo desejo humano Sem limites  O mesmo descompasso  O mesmo desencontro que nunca corrige  Por ser incorrigível Inatingível  Insuperável E, assim, o artista e o científico simulam histórias, revoluções... Narrativas hiperbólicas Eventos fantásticos  Querem viver além das galáxias Querem o infinito  Cada um com os seus mitos e fábulas E o artista vive mais de ilusões que juízo E vive, intenso, de estação em estação  Do inferno ao paraíso  Só para voltar no mesmo princípio  Assim como o homem científico Como todo indivíduo  Que persegue a sombra e enxuga o gelo  Só para retornar ao começo do seu ciclo A mesma distração, os mesmos vícios O tempo consumido  Enquanto a vela queima  Via de regra É a vida que teima  Sem desperdícios 

Sou carente mesmo

 Não estou, sou. Carente não apenas porque sinto falta, mas também sabendo que posso oferecer muito mais do que tenho feito. Que posso ser o amigo mais fiel, o amante mais entregue, o companheiro mais inteiro... Mas as portas estão mais fechadas do que abertas para mim. Assim como as janelas. Claro que eu também tenho o meu orgulho, as minhas preferências. São tão simples... Tão fáceis de entender... Só quero respeito, compreensão, empatia, tolerância... Porque isso, eu também posso oferecer. Quando é mútuo e racional, porque não respeito quando não sou respeitado. Não simpatizo quando o outro é antipático comigo. Não compreendo quando é incompreensível, injustificável. Não tolero quando é intolerável, em seu sentido mais puro, de injusto e, acima de tudo, cruel e falso. Por isso, eu continuo em minha busca, menos esperançoso de que um dia irei finamente encontrar um alguém ou que minha lista de amigos aumentará um pouco. Ou que finalmente me mudarei desta cidade e ficarei mais próximo